Por: Cmte. Pedro Canabarro Clique aqui para ver as outras partes
Redes Estaduais Aéreas Limitadas – Real
A história da Redes Estaduais Aéreas Limitadas (Real) começa com o sonho do aviador paulista Vicente Mammana Neto. Vicente era comandante da TACA e filho de um industrial paulista, que sonhava em ter sua própria empresa aérea. Já havia tentado em 1943 abrir a Cia. Santista de Aviação, projeto que não obteve êxito.
Lineu Gomes
Uma nova tentativa foi feita em 1945, desta vez com a parceria do também comandante Armando de Aguiar Campos, então piloto da Cruzeiro do Sul, e Lineu Gomes, então copiloto da TACA. Dessa vez, Mammana Neto obtém sucesso e em dezembro daquele ano é fundada a Redes Estaduais Aéreas Limitada, com um capital de 3 milhões de cruzeiros, que seria conhecida como “REAL” e receberia a autorização de voo em 30 de novembro de 1945.
A Real começaria a voar em 7 de fevereiro de 1946 com três Douglas C-47 que seriam usados na linha de Congonhas para o aeroporto Santos Dumont, estendendo essa linha até Curitiba ainda no primeiro semestre daquele ano.
Bristol 170 Mk II Wayfarer
A Real se tornaria uma das maiores empresas do país, inovando em várias áreas e contribuindo para o desenvolvimento do mercado aéreo no Brasil. Iniciou a operação de aeronaves maiores, com maior capacidade de passageiros, como Bristol 170 Mk II Wayfarer para 36 passageiros. Introduziu o conceito de low fare e low cost no mercado Brasileiro muito antes dele ter sido pensado nos Estados Unidos.
Foi a primeira empresa brasileira a voar para o Japão. A primeira empresa brasileira a pousar em Brasília, mesmo antes de ela ser inaugurada. Chegou a ser a sétima maior empresa aérea do mundo em 1958 com 117 aviões. Foi a maior operadora de Douglas DC-3 vindo a ter 99 deles. Usou de estratégias publicitárias inovadoras como no caso da chamada “guerra das letras” dos Super Constellations com a VARIG. Também inovou ao passar a formar seus próprios pilotos com a criação de uma escola de treinamento.
Lockheed 18 Lodestar
Em 1947, a Real incluiu destinos como Londrina e Foz do Iguaçu. Em 1948, adquiriu o controle da Linhas Aéreas Wright, uma pequena empresa que operava com dois aviões Lockheed 18 Lodestar na linha Rio de Janeiro – Santos.
A administração da Real jogava duro e operava com a tarifa mais baixa possível para remover a concorrência. Também estimulava que prefeituras de cidades vizinhas que recebiam voos comerciais a construírem aeroportos para receberem a Real. Alimentando a vaidade dos prefeitos e promovendo disputas geoeconômicas, conseguiu operar em quase todo o norte do Paraná, desbancando a VASP que até então dominava a região.
Usou da mesma pratica em quase todo interior brasileiro. As cidades que, por sua vez, não queriam ficar de fora, inauguravam campos de pousos cada vez mais precários, o que provocaria vários acidentes aéreos.
Em 1949, a Real compra outra pequena empresa, a Linhas Aéreas Natal, de Juiz de Fora, que operava quatro DC3, chegando assim até Campo Grande, no Mato Grosso. Em agosto de 1951, a Real então aposta grande e compra também a Linha Aérea Transcontinental, expandindo suas linhas na região Nordeste do país, onde atingiria seis capitais.
Apesar deste crescimento rápido e acentuado, a Real ganha a fama de a empresa aérea indisciplinada e sem padronização, com um ambiente de trabalho estressante, onde se obrigava os pilotos a descumprirem normas e a segurança operacional. Pelo menos um de seus oito acidentes teve como influência predominante a pressão exercida pela empresa para que a tripulação voasse uma aeronave sem condições.
No final de 1951, a Real recebe concessão para voar até Asunción, no Paraguai. O voo ligava São Paulo a Asunción com escalas em Curitiba e Foz do Iguaçu. Em 1954, a Real consegue que o governo paraguaio lhe de concessão de fazer escalas no território quando da saída do Paraguai. Assim, consegue realizar escalas em Encarnación em um voo entre Asunción e Uruguaiana, e Concepción no voo que ligava Asunción a Corumbá. Mais uma grande jogada da Real, que estava operando linhas domesticas em outro país.
Porém, a grande cartada foi dada em 1954 com a compra da Aerovias Brasil. A Aerovias, que havia sido comprada pela VASP na gestão do governo de Adhemar de Barros e em seguida privatizada novamente e comprada pelo próprio governador Adhemar de Barros e seu sócio, em um negócio mal esclarecido e obscuro, acabaria agora vendida pelo mesmo governador a Real.
Convair CV-440 Metropolitan,
Com essa aquisição, a Real chegaria aos Estados Unidos, além de diversos destinos nacionais. Com a incorporação da Nacional, em 1956, a Real chegaria à sua maior expansão no mercado doméstico, atingindo todos os estados do Brasil. Estava assim formado o Consórcio Real Aerovias Nacional, que depois seria o Consorcio REAL Aerovias Brasil, virando a maior empresa aérea brasileira, com 117 aviões e a sétima maior do mundo, colocação nunca mais atingida ou ultrapassada por nenhuma outra empresa aérea brasileira.
No começo de 1958, seriam incorporadas à Real as aeronaves que dariam o impulso final nas linhas internacionais: os Lockheed L1049H Super Constellation. Os quatro aviões fariam linhas que iam de Buenos Aires até Miami, com várias escalas no Brasil e em outros países da América Latina. Também uma linha que chegava até Tóquio, passando por Manaus, Bogotá, Los Angeles e o Havaí.
Além de promover a expansão das rotas internacionais os Super Constellations foram protagonistas da chamada “guerra das letras”. A Real havia pintado, em destaque, nas pontas das asas, e usava em destaque nos anúncios, a expressão “Super H”, para induzir o público a pensar que esses aviões eram mais modernos que os Constellation “Super G” da Varig.
Na prática, o L1049H tinha apenas uma porta de carga e um piso reforçado, em relação ao modelo G, da VARIG. A Varig, por sua vez, escreveu a palavra “Intercontinental” dos seus L1049G, com a letra “I” em destaque, induzindo o público a pensar que era um modelo “I”, mais moderno que o “H”, embora o modelo “I” jamais tivesse existido.
Por volta de 1960, a Real, apesar ou muito provavelmente por causa deste crescimento acelerado, encontrava-se em uma crise financeira, apresentando prejuízos em sua operação. O Departamento de Aviação Civil já havia detectado os problemas que incluíam, além da questão financeira, o estado de saúde ruim do comandante Lineu Gomes, que então controlava a empresa, e a concorrência predatória com as outras companhias.
O então Presidente da República, Jânio Quadros, tão logo assumiu, recomendou uma “racionalização” das linhas, especialmente as internacionais, e, em 2 de maio de 1961, a Varig assume todo o Consórcio Real Aerovias Brasil, encerrando a jornada de 15 anos daquela companhia.
Lineu Gomes, o único fundador que ainda se encontrava na direção da empresa, embolsa uma polpuda soma, passando os problemas para a Varig. Ele iria se dedicar à política, sendo suplente de Senador da República.
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