Por: Cmte. Pedro Canabarro
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Nasce a Aviação Comercial Brasileira
Enquanto na Europa fervilhava a ânsia por fazer voar, no Brasil tínhamos pouca ou quase nenhuma atividade com tal fim. É verdade que necessitamos uma pesquisa mais ampla e aprofundada a respeito, pois alguns indícios existem de que essa calmaria em ares brasileiros não era tão profunda. Mas vamos nos ater no momento ao desenvolvimento da aviação comercial brasileira.
Apontar com certeza extrema qual foi o primeiro voo comercial realizado em território brasileiro já é, sem dúvida, uma tarefa mais complexa do que parece. Vários voos historicamente relevantes foram realizados para o território brasileiro ou dentro dele antes do 1º de janeiro de 1927 – data que a academia considera como a do primeiro voo comercial feito em nosso território.
É verdade que esse voo entre Rio de Janeiro e Florianópolis, realizado pelo Condor Syndikat e considerado o primeiro de uma companhia aérea a transportar passageiros no país, foi um dos marcos iniciais da aviação comercial brasileira.
Mas existem outros tantos que não podem cair no esquecimento da comunidade aeronáutica. Principalmente se expandirmos o conceito de aviação comercial, como costumam fazer alguns historiadores.
Se considerarmos a aviação comercial como todo e qualquer voo efetuado com fins comerciais, abriremos nosso leque para a aviação de desafios e proezas, que pagava altos prêmios em dinheiro, para a de construção e o desenvolvimento de aeronaves, para os batismos de voos e escolas de aviação. E esses voos, também historicamente relevantes, devem ser igualmente resgatados e preservados.
Dornier Wal “Atlântico” da Condor Syndikat
Dito isso podemos considerar que a aviação comercial teve sua origem nos desafios aéreos, na aviação de “batismo aéreo”, e boa parte de sua evolução na aviação postal, e também na construção de aeronaves.
Os desafios aéreos envolviam altos prêmios em dinheiro, propostos por governos, jornais, revistas ou empresas interessadas em desenvolver a aviação.
O mais famoso deles, que ficou na memória histórica da maioria das pessoas, foi o voo transatlântico realizado por Charles Lindbergh em 1927. Porém, temos muitos outros voos ao redor do mundo que cumpriram desafios tão ou mais relevantes, que foram praticamente esquecidos ou relevados a segundo plano pela história. Alguns desses voos aconteceram no Brasil.
Muito menos conhecido que Lindbergh foi o voo de Edmond Plauchut, mecânico de Santos Dumont. Realizado no dia de 22 de outubro de 1911, buscava um prêmio de 10 contos de réis oferecido pelo jornal A Noite para quem decolasse da Praça Mauá, contornasse a Ilha das Cobras e pousasse na Ilha do Governador – um percurso de 48 km.
Plauchut quase completou o objetivo, mas acabou por cair no mar, próximo à Ilha do Governador. Alguns historiadores consideram esse o primeiro voo de avião realizado em ares brasileiros.
Outra corrente defende que o primeiro voo no Brasil e na América do Sul foi realizado em 7 de janeiro de 1910, em Osasco (SP), pelo industrial francês radicado no Brasil Demetrie Sensaud de Lavaud e por seu mecânico, Lourenço Pelegati. Esses pioneiros teriam feito um curto voo com um avião construído por eles mesmos, denominado São Paulo.
Outra proeza aérea relevante para a aviação brasileira, realizada antes de 1927, aconteceu no dia 17 de junho de 1922 com a chegada ao Brasil do primeiro voo proveniente da Europa, com Gago Coutinho e Sacadura Cabral, a bordo do hidroavião Lusitânia.
E, mais relevante ainda para a aviação brasileira, ocorreria alguns anos mais tarde a façanha de João Ribeiro de Barros que, junto com Arthur Cunha, João Negrão, Newton Braga e Vasco Cinquini, atravessariam o Atlântico em 28 de abril de 1928, no hidroavião Jahú.
Esse voo, além de exemplo de proeza aérea, pode ser usado para demostrar como a influência política e governamental sempre envolveu a aviação brasileira. Também merece um artigo específico para si próprio.
Hidroavião Jahu no antigo museu da TAM
Infelizmente, o avião Jahú hoje se encontra sob tutela do acervo do antigo museu da TAM, encerrado em um hangar, sem acesso a visitação e com destino incerto.
A fundação do Aeroclube Brasileiro no Rio de Janeiro, em 14 de outubro de 1911, também deve ser relacionada como fato relevante ocorrido antes do voo do Condor Syndicat.
Vários eventos aeronáuticos ocorreram com o objetivo de desenvolver a aviação no país. Foram realizados muitos voos para sobrevoar a cidade, levando passageiros que podiam pagar o preço. Eram o chamado “Batismo Aéreo” – e, como foram voos comercializados, deveriam ser considerados na cronologia histórica do voo comercial.
O Aeroclube Brasileiro foi o segundo clube aeronáutico criado no mundo. Mais tarde, em 1913 é criada a Escola Brasileira de Aviação.
Latécoère 300 em Natal (RN), em 1934
Se nos Estados Unidos a aviação postal – iniciada em 15 maio de 1918 – é considerada o marco da aviação comercial, no Brasil, a aviação postal também tem sua influência na criação e no desenvolvimento das companhias aéreas. As operações se iniciaram em 15 de agosto de 1919, com pilotos e aeronaves da Marinha, e prosseguiu de forma esporádica até o começo da operação postal da francesa Latécoère, em 1927 – e depois, em 12 de junho de 1931, com a fundação do Correio Aéreo Militar.
Os genes de criação de empresas aéreas haviam sido lançados no país. Agora, seria questão de tempo para que frutificassem e originassem os voos comerciais no Brasil.
Em breve, a parte 5 – fique atento a nossas mídias.
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